domingo, 24 de julho de 2011
Os casais que caminham de mãos dadas.
Moacyr Scliar
"Dar a mão a alguém significa ajudar esta pessoa; é a expressão de um amparo que pode ser prático, mas é emocional também.
Médico de saúde pública, costumo fazer aquilo que recomendo a outras pessoas: todos os dias me exercito, seja na ACM em Porto Alegre, seja no fitness room de hotéis (quase todos agora oferecem esta facilidade), seja simplesmente caminhando por ruas e parques, o que apresenta a vantagem adicional de conhecer lugares e observar pessoas. E, observando, nunca deixo de reparar nos casais que caminham de mãos dadas.
Um hábito que chama a atenção, porque estas pessoas renunciam ao movimento dos braços que em geral é parte da marcha - mas o fazem por boas razões, como já veremos. Mas primeiro é preciso dizer que, em outros países, sobretudo no sul da Ásia, não só casais andam de mãos dadas; homens também o fazem, é até um sinal de amizade.
Num encontro internacional de saúde pública passei por certo constrangimento quando, ao sairmos do prédio, um colega paquistanês quis caminhar de mãos dadas comigo, o que, para alguém vindo do Rio Grande do Sul, parecia no mínimo estranho.
Aqui, se vemos pessoas de mãos dadas, certamente se trata de casais.
São, em geral, pessoas de meia- idade ou mesmo idosas. Aliás, é mais raro ver casais jovens caminhando juntos, o que é facilmente explicável: é uma fase em que homem e mulher têm compromissos separados, seja em casa, seja no trabalho; compatibilizar horários pode então ser uma coisa complicada. Na fase da aposentadoria, dos filhos crescidos, há mais tempo disponível: marido e mulher podem viajar juntos, podem almoçar juntos e podem caminhar juntos. E, quando o fazem, é freqüentemente de mãos dadas.
Por quê? Por que caminham de mãos dadas, estes casais?
A resposta mais óbvia é a de que assim estão se protegendo mutuamente.
As ruas das cidades brasileiras freqüentemente são esburacadas e, a partir de certa idade, um buraco é mais do que um buraco, é uma armadilha, por causa do risco de quedas.
Os resultados de uma queda podem ser bem desagradáveis: a fratura de colo do fêmur é um espectro da maturidade. Na verdade, o colo do fêmur é nosso calcanhar de Aquiles, é um ponto de menor resistência.
O fêmur é forte, reto, orgulhoso, como a coluna de um templo grego. Mas ele não é parte de um templo grego, é parte de nosso corpo, e assim, de repente, precisa fazer uma inflexão para se encaixar na bacia.
Ora, súbitas inflexões, inesperadas mudanças de rumo têm seu preço; no caso, o colo do fêmur, que é sede de freqüentes fraturas. Por causa dessa possibilidade os casais se apóiam mutuamente.
Este é o lado prático de andar de mãos dadas. Mas há também o lado simbólico.
A mão é o emblema de nossa humanidade.
A mão transformou o troglodita do passado no Homo faber, o homem, e a mulher, que fazem coisas, que confeccionam objetos.
A mão, porém, não é só um instrumento de trabalho, é um veículo de emoções.
Dar a mão a alguém significa ajudar esta pessoa; é a expressão de um amparo que pode ser prático mas é emocional também.
Estou aqui, diz o homem à mulher cuja mão ele segura.
Estou aqui, diz a mulher ao homem cuja mão ela segura.
"Se todas as pessoas do mundo/ quisessem se dar as mãos", como diz o famoso poema do francês Paul Fort, seríamos mais unidos, mais felizes.
Seríamos mais humanos. E poderíamos rir dos muitos buracos que encontramos na vida."
quinta-feira, 7 de julho de 2011
Desejos e Necessidades
"Os desejos são muitos, as necessidades são poucas.
As necessidades podem ser satisfeitas; os desejos, nunca.
Desejo é uma necessidade que enlouqueceu. É impossível satisfazê-lo. Quanto mais você tentar satisfazê-lo, mais ele pedirá.
Conta uma história sufi que, quando Alexandre morreu e chegou ao paraíso, ele estava carregando todo o seu peso: todo o seu reinado, ouro, diamantes - é claro que não em realidade, mas como uma idéia.
Ele estava demasiadamente oprimido pelo fato de ser Alexandre. O guardião do portal do paraíso começou a rir e perguntou: "Por que você está carregando tanto fardo?"
Alexandre retrucou: "Que fardo?". Então o guardião lhe deu uma balança, em um dos seus pratos colocou um olho e pediu a Alexandre para colocar no outro prato todo o seu peso, sua grandeza, seus tesouros e o reinado.
Mas aquele olho ainda permaneceu mais pesado que todo o reino de Alexandre. O guardião disse: "Esse é um olho humano. Ele representa o desejo humano e não pode ser satisfeito, não importa quão grande seja o seu reino e quão intensos sejam os seus esforços."
Depois, o guardião jogou um pouco de poeira no olho, que imediatamente piscou e perdeu todo o seu peso.
Uma pequena poeira de entendimento precisa ser jogada no olho do desejo. O desejo desaparece e permanece somente a necessidade, que não é pesada. As necessidades são muito poucas e são belas. Os desejos são feios e transformam os seres humanos em monstros; eles criam loucos.
Assim que você começar a aprender a escolher a serenidade, um pequeno quarto será suficiente, uma pequena quantidade de comida será suficiente, poucas roupas serão suficientes, uma pessoa amada será suficiente.
(Osho)
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